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VOCÊ S/A - Armadilhas da soberba

16/03/2011 09:19

Confiança na dose certa ajuda você a crescer na carreira. Em excesso, pode levar a erros gigantescos

A auto-estima é um componente fundamental para crescer na carreira. Ela se traduz em confiança e ajuda a tomar as decisões difíceis no dia-a-dia. Quando você erra, é essa mesma confiança que o faz reconhecer equívocos e seguir em frente. Ela é diretamente proporcional à quantidade de conhecimento que você tem a respeito de um assunto, ou à experiência que já acumulou para realizar determinada tarefa. Portanto, ser confiante é bom. O problema está no excesso de confiança, também chamado de orgulho ou soberba. Trata-se de uma armadilha em que muitos profissionais bem-sucedidos costumam cair. Seu maior perigo? Normalmente, só se percebe a soberba quando já é tarde demais. 

Tome-se como exemplo a atual crise financeira. No Brasil, as empresas e seus executivos operam no mercado de derivativos de câmbio, obtendo grandes ganhos financeiros. Quando essa operação regular dá lugar à tentação de lucros exorbitantes, o que se vê são casos como o da Aracruz, da Votorantim e da Sadia. Neles, seus executivos se achavam espertos demais para ser pegos por um aumento rápido na cotação do dólar. "De fato, a chance de dar errado era mínima, mas foi subestimada por vários profissionais", diz José Rogério Luiz, de 44 anos, vice-presidente executivo da Totvs, empresa brasileira de software de gestão. Quando a crise veio e o dólar subiu, o prejuízo foi de bilhões de reais. E mais: vários executivos perderam seus empregos. "Regra geral, os líderes são os mais expostos à soberba", diz o suíço Paul Strebel, professor de liderança e mudança estratégica da IMD, escola de negócios com sede em Lausanne, na Suíça. 

Se o profissional souber evitar idéias preconcebidas, diz o professor, ele escapa das armadilhas do ego. "Abra tempo na sua agenda para ver, ouvir e entender o que está ocorrendo na empresa e no mercado", recomenda. A melhor forma de não ser excessivamente confiante, diz Paul, é ter a lembrança de um fracasso. Ao sentir a experiência na carne, a pessoa aprende. E quem é jovem e inexperiente como pode se policiar? A saída é encontrar interlocutores capazes de contestar suas convicções. "Precisa ser uma pessoa independente, de personalidade forte e capaz de acender uma luz vermelha para você", diz. O interlocutor certo depende do que você precisa. Veja alguns exemplos de anjos da guarda: 

• Clientes Se você vai lançar um produto ou serviço, precisa ir à rua ouvir a opinião de quem vai comprar. 
• Concorrentes Se você trabalha no reposicionamento de sua empresa ou de um produto específico, assegure-se de que você não está apenas imitando seus concorrentes, que conhecem o mercado tão bem quanto você. Tente pensar com a cabeça do rival. 
• Funcionários Ao sugerir uma mudança, ouça o que acham da idéia subordinados e funcionários que serão impactados por ela. "Eles sabem o que precisa ser consertado", diz Paul. 
• Investidor Se a intenção é trazer mais dinheiro para a empresa ou abrir um negócio, tente ouvir o que um investidor acha de seu plano de negócios. 

A outra parte da culpa pela existência de executivos que falham por excesso de confiança está na própria cultura corporativa. Um componente da soberba é o poder conferido a alguns líderes. "Cria-se uma situação em que ninguém tem coragem de questionar o chefe", explica o professor. Numa hora dessas, é preciso se posicionar. "Tente explicar o que, de seu ponto de vista, é a decisão certa a ser tomada para o negócio", diz Antonio Sergio de Almeida, diretor administrativo-financeiro da Morganite do Brasil, fabricante de produtos de fibra cerâmica.

AS 5 ARMADILHAS DO EGO 
Um líder é capaz de construir raciocínios complexos para convencer as pessoas — e ele mesmo — de que aquilo que está fazendo é o certo. "Quem é excessivamente ambicioso tem uma opinião superdimensionada de si mesmo. Isso leva a pessoa a subestimar os obstáculos e a superestimar sua competência", diz Paul Streber. Conheça os cinco tipos de soberba. 

1. "Sou bom em tudo" 
Um exemplo recente é o de executivos brasileiros que operam no mercado de derivativos de câmbio. Após sucessivas operações com ótimos resultados contábeis, eles passaram a ignorar o risco, a ponto de imaginar que jamais seriam pegos por um aumento rápido na cotação do dólar. Quando a crise se intensificou, no início de setembro, vários profissionais perderam o emprego. 

2. "Sei o que o cliente quer" 
A armadilha do ego está em superestimar o conhecimento que se tem de um determinado mercado. Acomete vendedores e gerentes comerciais experientes, por exemplo. O executivo considera que já sabe exatamente o que seus clientes querem. Sem consultar o mercado, traça toda uma estratégia baseada nas suposições que fez. E fracassa quando coloca o plano em prática 

3. "Não há nada de errado comigo" 
Esse comportamento revela uma recusa a encarar a realidade. Costuma atingir gestores que precisam reduzir custos ou aumentar a produtividade de suas áreas. Esses gestores acreditam que estão fazendo o melhor possível e se surpreendem com a informação de que é preciso fazer mais. Normalmente, eles resistem a obedecer, argumentando que eles estão certos e a empresa, errada. 

4. "A concorrência é ruim" 
Essa manifestação de autoconfiança está presente em executivos de empresas maduras que costumam menosprezar a concorrência. Atinge também profissionais que estão entrando em um determinado mercado e, no lugar de inovar, apenas imitam os líderes do setor. O lema de quem sofre dessa soberba é "nós podemos superar a concorrência, não importa o que ela faça". 

5. "Render-se, nunca. Retroceder, jamais" 
O comportamento ataca gestores em empresas ou departamentos que dão prejuízo. A pessoa se recusa a desistir de um projeto e garante que a solução é investir mais recursos humanos e financeiros para recuperar a lucratividade. Esse tipo de profissional é hábil em criar argumentos para convencer a companhia a seguir em frente da maneira que ele entende que é a certa.

Por Murilo Ohl

Fonte: https://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/armadilhas-soberba-510268.shtml#

 

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